Podcast.
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“O analista se encastela em sua escola e se aparta da realidade social, o que resulta em uma forma de santuarização da figura do psicanalista.”
Essa afirmação, extraída de Uma História da Psicanálise Popular, de Florent Gabarron-Garcia, me atravessa. Ela reabre a pergunta pelo lugar da psicanálise para além de si mesma — entre os discursos que circulam, entre os que sofrem, entre os que lutam por dignidade.
Como sustentar a formação de analistas comprometidos com o laço social, com a palavra que se desloca nos impasses da existência, e não apenas nos divãs?
Em meio a esses questionamentos, participei na produção de dois episódios de abertura de um podcast vinculado a Rede Clínica do Laboratório Jacques Lacan (IP-USP) — projeto de extensão universitária onde me enlaço com a psicanálise entre outros analistas.
Os dois primeiros episódios abordam os seguintes temas:
A elitização da psicanálise;
A formação e a possibilidade de sua democratização.
Trata-se de uma iniciativa coletiva, feita por quem sustenta uma intervenção em formação, dentro e fora do consultório, nos espaços clínicos e institucionais.
🎧 Ouça aqui: NÃO É DISSO QUE SE TRATA
Foi minha primeira travessia nesse formato — falar com o outro por esse canal, levar a voz e o inconsciente junto.
Não se forma um analista sem laço, sem política, sem o risco de dizer.
Aquele que se dirige à psicanálise recebe como regra fundamental que fale — fale do que sabe e, do que não sabe, fale ainda mais. Na análise, o que se fala de afetos e reminiscências transferidos pode nos colocar diante de um limiar: aquilo que marca o corpo de carne e que se reinscreve em um corpo de palavras.
Desde o primeiro encontro ou desencontro com o outro, o infans experimenta suas satisfações pulsionais. Freud as define como forças constantes, originadas de processos somáticos entre órgão e corpo. Entre os órgãos privilegiados da satisfação pulsional, a boca ocupa o lugar que lhe cabe. O que nela se produz pela oralidade mantém estreita relação com o campo que podemos nomear como pulsão invocante.
Ler apenas com a “voz silenciosa do pensamento” nunca me pareceu tão satisfatório quanto escutar as ondas sonoras da minha própria voz ou da voz do outro. Muitos dizem que ler em voz alta concentra, constato por aqui como verdade: o retorno da própria voz, ou da voz de outros, produz um efeito singular. Minha experiência em grupos de leitura de textos psicanalíticos confirmou esse valor — não apenas pela presença de colegas que leem as mesmas linhas e encontram outros sentidos, mas também quando leio “para ninguém”, para as paredes, sentindo que algo se produz nesse encontro entre olhar e texto, voz e escuta.
É desse lugar que nasce este projeto: deixar a voz ressoar, dar corpo à leitura e fazer circular algo que, embora me sirva como registro pessoal, pode também fazer parte do percurso de outros.
Fiquem à vontade para tomar os textos em mãos ou simplesmente escutar o que aqui se divide.
🎧 Ouça aqui: COM A PALAVRA, O TEXTO!